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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Gnosiologia em Santo Agostinho: Veracidade na Doutrina da Iluminação ©


Autor: Ulisses da Silva Santana
Ulisses Pavinič

RESUMO
Esse artigo faz uma abordagem sobre a teoria do conhecimento em Santo Agostinho, sobretudo a sua concepção a respeito da verdade, objetivando mostrar as influencias que sofreu no caminho que percorreu o Bispo de Hipona, até chegar à prova da verdade com sua doutrina da iluminação. Fruto de revisão bibliográfica, fundamentada nos livros de Agostinho “Confissões” e “De Magistro”, e Bastos, Jenner “O problema do conhecimento na filosofia grega e medieval”, além de pesquisa em artigos acadêmicos disponíveis nos meios digitais descritos nas referencias, tendo sido realizada através de estudos e contextualização da bibliografia. Finaliza mostrando a confirmação da sua teoria através da doutrina criada, na qual, só existe uma verdade absoluta e ela se encontra dentro de cada individuo, é extraída da própria alma.

ABSTRACT
This article makes a boarding on the theory of the knowledge in Saint Augustin, over all its conception regarding the truth, objectifying to show influences them that it suffered in the way that covered the Bishop of Hipona, until arriving the “test” of the truth with its doctrine of the illumination. Fruit of bibliographical revision, based on books of Augustin “Confessions” and “De Magistro”, and Bastos, Jenner “The problem of the knowledge in the philosophy Greek and medieval”, beyond research in available academic articles in the described digital ways in the references, having been carried through studies and contextualization of the bibliography. It finishes showing the confirmation of its theory through the created doctrine, in which, it only exists an absolute truth and it if it finds inside of each individual, it is extracted of the proper soul.

Palavras-chave: Fé, razão, verdade, Deus, gnosiologia, teoria do conhecimento, ceticismo, maniqueísmo, neoplatonismo, criacionismo, reminiscencia.

“Pelo motivo do egoísmo e do individualismo humano, a revelação da verdade esta muito longínqua, e ela, possivelmente, jamais será desvendada em toda sua plenitude. E assim, ao mesmo tempo em que se constroem umas “verdades”, se destroem outras tantas...”. SANTANA, US, 2007.

INTRODUÇÃO
Esse artigo trata da verdade em Santo Agostinho e  foi pensado a partir das seguintes questões: A verdade é possível ou não de ser alcançada? Deve-se crer em tudo que se conhece hoje, como verdadeiro? Como encontrar a verdade em um mundo repleto de realidades subjetivas e incertezas relativas? Que caminho percorrer para chegar ao conhecimento verdadeiro? Questões essas que são colocadas por diversas correntes de pensamento e pela maioria dos pensadores, cada um deles, respondendo-as seguindo suas próprias convicções. Destarte, espera-se trazer a luz da verdade de acordo os ensinamentos de Santo Agostinho. É apresentada aqui a sua trajetória de vida, que se confunde às vezes com a sua teoria do conhecimento; e a doutrina da iluminação, usada para chegar ao conhecimento verdadeiro e a certeza da verdade que é o resultado de sua busca. Nascido em Tagaste, Catargo, norte da África em 354dc. A moderna Souk-Aras da Argélia atual ao sul da Bona. Com um temperamento rebelde, uma juventude de pecados, foi conduzido por sua mãe em direção à fé verdadeira. Em 396, eleito Bispo de Hipona. Foi um grande marco para a filosofia e a teologia, pois em um tempo de fé ele plantou a semente da razão, buscando harmonizá-las, defendendo que o progresso do homem não depende somente da vontade divina, mas também do próprio esforço, adequando as idéias neoplatônicas à doutrina cristã. No percurso da sua vida cheio de conflitos e contradições, elabora uma teoria do conhecimento sustentada na doutrina da iluminação. Expõe, através do seu próprio exemplo, que a verdade não é encontrada fora do ser humano, ela esta dentro de cada um, e é a bondade de Deus que ilumina o ser com lampejos de sabedoria, fazendo com que o conhecimento verdadeiro seja despertado. Morre em 430, aquele que foi inegavelmente contemporâneo de todas as gerações.
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2 A VIDA DE SANTO AGOSTINHO
A trajetória de vida de Santo Agostinho se confunde com sua teoria do conhecimento, portanto, faz-se necessário uma abordagem sobre como viveu o Bispo de Hipona.
Aurelius Augustinus (354-430), nascido em Tagaste na África, filho de Patrício, um pagão e Mônica, uma beata, foi um jovem Intelectual e muito curioso, com um temperamento de excepcional sensibilidade e afetividade. Embora tenha sido iniciado nas verdades cristãs desde cedo, por sua mãe Santa Monica, sucumbiu ao ambiente acadêmico pagão de professores e companheiros. Passou por diversas experiências filosóficas, desde seu materialismo racionalista, passando pelo ceticismo, até sua substituição por uma concepção espiritualista. Em sua busca pela verdade conheceu seitas e doutrinas, integrando-se ao maniqueísmo, mas foi no cristianismo que encontrou seu porto seguro tornando-se bispo católico por intermédio de Santo Ambrósio.
No período medieval não era muito com um aos estudiosos debruçar os seus estudos sobre o conhecimento. No entanto, Santo Agostinho o fez. O pensamento agostiniano sofre influências helenísticas: Do maniqueísmo herdou uma concepção dualista no âmbito da moral, simbolizada pela luta entre o bem e o mal, a luz e as trevas, a alma e o corpo. Destarte, diz que o homem tem uma inclinação natural para o mal, para os vícios, para o pecado (já nascemos pecadores). O mal é o afastamento de Deus, apontando claramente para a necessidade do homem de uma intensa educação religiosa; no ceticismo desconfiava dos dados dos sentidos, do conhecimento sensorial, que apresenta criaturas inconstantes e transitórias, adotava a razoabilidade, ou seja, o probabilismo ético, mas tinham a pretensão de constituir uma escola de sabedoria. Bastos afirma que o cético “duvidava de toda e qualquer verdade e adotava a permanente suspensão do juízo”; no platonismo assimilou que a verdade deve ser buscada intelectualmente no mundo das idéias “homem interior”. Defendeu a via do autoconhecimento, o caminho da interioridade, com o instrumento legítimo para a busca da verdade. Afirma que a nossa alma necessita da luz divina para visualizar as verdades eternas da sabedoria que se encontra em cada pessoa.
A expansão do império romano patrocinou o encontro da filosofia grega com o judaísmo e o cristianismo, nesse contexto foram se fundindo essas mais variadas tendências filosóficas e teológicas inclusive com o surgimento de muitas seitas e muitas dissidências.
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Julga-se a idade média como uma época de não liberdade religiosa, mas observa-se uma diversidade de seitas, como bem expõe o julgamento do romano na corte em Cartago, contradizendo essa idéia, presentes ali: Um romano tradicional “pagão”; os adoradores do deus que é o próprio rei “arianos”; a doutrina seguida por Agostinho “maniqueus”; E a que Santo Ambrosio, representava “cristãos”. Ele, Ambrósio, mostra com sabias palavras que o bem e o mal estão presentes na natureza humana, e não nas coisas transcendentais que regem o universo.
Se existe alguém com a verdade então não tem outra verdade mostra um caráter de exclusão. O homem é quem dita os valores das coisas que faz e produz. O bem e o mal estão presentes no próprio homem. O homem não encontra a verdade, deve permitir que a verdade o encontre. (Bispo Ambrosio).
Esse julgamento foi um ponto de partida para a mudança de concepção do filosofo africano, devoto dos maniqueus, onde a verdade é posta na luta entre o bem e o mal. Nessa ocasião estava acostumado a lidar com a verdade dos advogados, a qual utilizara nos seus argumentos retóricos.
Não contente com essa situação, queria respostas definitivas para o problema da existência, foi quando conheceu os discípulos de Plotino (205-270), adeptos do platonismo místico. A partir de então o neoplatonismo viria a ser a ponte que permitiria a Agostinho dar o grande passo de sua vida, constituía a filosofia por excelência, a melhor formulação da verdade racionalmente estabelecida, que com ligeiros retoques transformou-se em doutrina da iluminação, permitindo ao cristianismo elaborar-se como teologia.
Adepto do cristianismo volta-se contra tudo que tinha seguido até então, colocando-se primeiramente em oposição aos acadêmicos com sua doutrina, usando o principal argumento do ceticismo, a “dúvida”. Provando a certeza com a dúvida cética. Em seguida combate a concepção dualista dos maniqueus, em que o mundo seria regido por duas forças antagônicas em constante equilíbrio, “o bem e o mal”. Mesmo reconhecendo a existência dessas forças, sua experiência leva a crer na existência de um só caminho para a verdade, a luz Divina. Resguardado nos princípios do cristianismo ele faz uma reavaliação do pensamento helenístico apoiando-se nas grandes teses do platonismo. A diferença entre eles é que o Bispo africano vai introduzir a idéia do criacionismo. A novidade é que o mundo das idéias de Platão vai ser substituído pelo mundo da consciência divina, ou seja, Agostinho cristianiza o platonismo. O pensamento do Santo de Hipona se torna as bases filosóficas e éticas do pensamento ocidental.
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2.1 TEORIA DO CONHECIMENTO (Gnosiologia)
A obra deste que foi o grande filosofo africano, está marcada pela devotada investigação do conhecimento. Com a sua teoria o Bispo de Hipona almeja provar a possibilidade do conhecimento, mostrando que o caminho para alcançar a verdade não está na instabilidade das coisas sensíveis, mas sim na estabilidade das inteligíveis, sendo elevada do visível ao invisível, do temporal ao eterno. Para o filosofo de Hipona, é na verdade que o homem encontra a felicidade, finalidade da sua busca existencial.
Em consonância ao pensamento de Gilson, onde o conhecimento da verdade absoluta é dado a partir da fé, ou seja, da certeza da verdade depois de refutada a dúvida, chega-se ao princípio da razão, no entanto, por ser a própria razão mutável e sofra instabilidade, já que passa da ignorância à certeza, do vício à virtude, precisa-se elevar a uma regra superior, invariável e imperativa, a regra pela qual são julgadas todas as coisas, sendo assim, da razão sobrevém à verdade. Ao tempo em que, chega-se àquele que é a fonte da própria Verdade subsistente, Deus.
[...] a prova completa é o conjunto do movimento dialético total, que compreende: 1º dúvida cética inicial; 2º refutação da dúvida pelo cogito; 3º descoberta do mundo exterior no conhecimento sensível e ultrapassagem desse mundo exterior; 4ª descoberta do mundo inteligível pela verdade e ultrapassagem desta verdade para alcançar Deus. (GILSON, 2006).
A Busca da verdade pelo Bispo de Hipona nasce da deliberação de não aceitar as certezas e crenças estabelecidas, de ir além delas e de encontrar explicações, interpretações e significados para a realidade que o cerca. Vejamos em suas Confissões as indagações:
O que é tempo? Tentemos fornecer uma explicação fácil e breve. O que há de mais familiar e mais conhecido de que o tempo? Quando quero explicá-lo, não encontro explicação. Se eu disser que o tempo é a passagem do passado para o presente, e do presente para o futuro, terei de perguntar: como pode o tempo passar? Como sei que ele passa? O que é um tempo passado? Onde ele esta? O que é um tempo futuro? Onde ele está? Se o passado é o que eu, do presente, recordo e o futuro é o que eu, do presente espero, então não seria mais correto dizer que o tempo é apenas o presente? Mas, quanto dura um presente? Quando acabo de colocar o “r” no verbo “colocar”, esse “r” é ainda presente ou já é passado? A palavra que estou pensando em escrever a seguir, é presente ou é futuro? O que é o tempo, afinal? E a eternidade? (CONFISSÕES, 1980).
É na memória que se encontra as ligações para a constituição do conhecimento defende o doutor de Hipona. Resguardando as proporções, pensadores como São Tomaz, “A memória é o tesouro e lugar e conservação das imagens”; Aristóteles, “[...] por isso, esses [animais racionais] são mais inteligentes e mais aptos para aprender do que os que são
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incapazes de recordar” (grifo nosso); Husserl, “[...] as coisas também podem ser na lembrança e nas representações afins da lembrança”, compactuam com suas idéias.
Não me prenderei nos próximos tópicos, pois os mesmos estarão sendo discutidos no cap. 3.2 (DOUTRINA DA ILUMINAÇÃO (Reminiscências)).
2.1.1 Fé e Razão
Este é o núcleo em torno do qual gravitam todas as suas idéias. O problema da felicidade constitui, para Agostinho, toda a motivação do pensar filosófico, isto é, uma indagação a procura da beatitude, ou felicidade. A beatitude, entretanto, não foi encontrada por Agostinho nos filósofos clássicos, mas nas Sagradas Escrituras, quando iluminado pelas palavras de Paulo de Tarso. Não foi fruto de procedimento intelectual, mas ato de intuição e de fé. Impunha-se, portanto, conciliar as duas ordens de coisas e com isso Agostinho retorna à questão principal, ou seja, ao problema das relações entre a razão e a fé, entre o que se sabe pela convicção interior e o que se demonstra racionalmente, entre a verdade revelada e a verdade lógica, entre a religiosidade cristã e a filosofia pagã.
[...] abundavam graças a ti, já que era um bem para elas ou delas receber aquele bem, embora realmente não fossem delas, meros instrumentos, porque de ti procedem, com certeza, todos os bens, ó Deus, e de ti, Deus meu, depende toda minha salvação. Tudo isto, vim a saber, mais tarde [...] (CONFISSÕES, 2000). Cap. VI
Estando o homem no tempo, sujeito às contingências e vicissitudes da vida, só pode ser absolutamente feliz possuindo aquilo que não pode mudar. O Ser no qual não existe e nem pode existir mudança alguma, Aquele que é e permanece desde sempre essencialmente imutável é o Deus Cristão, o Sumo Bem. Portanto, Santo Agostinho vê na posse da divindade a felicidade absoluta do homem, visto que essa felicidade será eterna, como Deus é eterno.
Para provar a certeza Agostinho recorre à dúvida. Se duvidar, sou eu o ser que dúvida, não posso duvidar que duvidasse, creio que para duvidar preciso existir, desse modo expôs a primeira certeza: “se duvido, existo”.
Existo, conheço e quero. Existo sabendo e querendo; e sei que existo e quero; e quero existir e saber. Repare, quem puder, como a vida é inseparável nestes três conceitos: uma só vida, uma só inteligência, uma só essência, sem que seja possível operar uma distinção, que, apesar de tudo, existe. [...] Nós somos, sabemos que somos e amamos o nosso ser e o conhecimento de nosso ser. Nestas três cousas não nos turva a compreensão espécie alguma de erro, pois não são como as cousas que existem fora de nós [...]. (CONFISSÕES, 1980).
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O Bispo africano entendia como necessária a razão no processo de conhecimento, no entanto, para ele a fé é de fundamental importância, pois ela além de possibilitar o desencadeamento de todo processo também é necessária para a conclusão do conhecimento. Sem a fé o ser humano nunca alcançará a verdade absoluta que reside em DEUS. Para o Bispo de Hipona a razão não pode comprovar a verdade, nós já temos a verdade, devemos aceitá-la. A razão e um auxílio a mais dado por Deus, o que importa mesmo é a fé. Isso não significa, porém, que ele funde a certeza da existência na fé, pois, como também acentua Gilson: “Com certeza absoluta, a razão é capaz de provar para si a existência de Deus, dado que esta verdade é conhecida pelos filósofos pagãos, ou seja, fora de toda revelação e toda fé”.
O homem só compreende porque primeiro acredita, se quisesse conhecer para depois acreditar, não poderia nem conhecer nem acreditar. Todo o percurso do homem resulta em Deus, pois toda a criação, a ordem natural das coisas, o “livro do mundo” apontam para o Criador. Mesmo a linguagem, como temos visto, também aponta para Deus, para o Verbo de Deus, pois é originária dele; e mesmo sua condição decaída pode ser progressivamente restaurada, e isso só é possível por meio da fé, que significa aceitar a impossibilidade de compreender a Deus sem o auxílio d’Ele mesmo. (PINHEIRO, 2013).
Em resumo, o homem deve invocar a Deus, mas este já habita nele. Para voltar a encontrar a verdade, tem de purificar sua alma, livrando-se principalmente do orgulho, da soberba, e das comoções da carne. Só a verdade nos tornará homens livres. Defendia ainda o filosofo africano que a educação religiosa deve ser um escorço de aprimoramento da essência humana para levar o homem à perfeição.
Como dizem Boehner e Gilson, em Agostinho “Não é o nosso argumento que torna necessária a existência de Deus”. Menos que pelo rigor lógico de uma demonstração minuciosa, para Agostinho, a prova se dá por um encontro com Deus. Nem daria para ser diferente, pois estando Deus acima da razão, e não podendo o inferior julgar o superior, como poderia a razão pôr-se a afirmar a necessidade da existência de Deus. Di-lo-á o próprio Doutor de Hipona: “Eu nunca pensaria que é a razão que funda a existência de Deus e que é o raciocínio que garante que Deus deve existir”. (CAMPOS, 2013).
2.1.2 Certeza da Verdade
Assegurando-se na dicotomia corpo/alma, ele apresenta os argumentos que coloca o espírito “alma” em uma condição superior ao corpo. Agostinho compreende que a sensação é uma ação da alma sobre o corpo, através desta ação e da verdade eterna iluminada, pode-se emitir juízos. Para Barros “a sensação é a percepção pela alma do que sente o corpo”.
Importa saber, pois, em que consiste esta superioridade da regra pela qual julgamos todas as coisas? Para compreendermos com exação isso, temos que ter
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presente, antes de tudo, que o que nos apraz é a harmonia, fonte da beleza. Só que onde há harmonia, há também igualdade e unidade. Agora bem, em nenhum dos corpos podemos ver a igualdade ou a harmonia perfeitas. Sendo assim, a verdadeira igualdade e semelhança, isto é, a unidade primeira, não as encontramos nas coisas corporais. Todavia, se os nossos sentidos não as encontram, o nosso espírito as percebe. Com efeito, se, por um lado, procuramos certa harmonia nos corpos, por outro, estamos bastante convencidos de quão longe esta harmonia fica daquela perfeição infinita que só a nossa mente alcança. Trata-se, na verdade, de uma perfeição inominável aquela pela qual julgamos as coisas exteriores. Como diz Agostinho, já acenando à sua transcendência: “Se ao menos pudesse ser denominada perfeita aquela perfeição que não foi feita”. (BASTOS, 2013).
Em seguida “ao contemplar as belezas naturais, pode ver que a sua origem é uma Natureza Viva. Viva, porque dá a vida. Ora, nada que não seja vivo pode conceder a vida. Desta sorte, uma natureza que confere vida a um corpo sem vida é superior a ele”. Afirma Bastos.
Para o Bispo africano, o primeiro passo consistia em crer na possibilidade do conhecimento da verdade, em seguida desenvolver de forma racional o caminho até ela. Ele acreditava que a razão sozinha não poderia chegar à verdade, por ser enganada pelos sentidos, daí a necessidade de uma fonte dessa verdade única e incontestável, que só poderia estar acima da razão. A verdade não é uma idéia, um conceito um estado da mente como afirma Platão, mas está manifesto em uma pessoa divina. Em Santo Agostinho também se tem o reconhecimento de dois tipos de conhecimento, sendo que, para ele, o conhecimento verdadeiro era entendido como conhecimento das verdades eternas, das regras ou idéias divinas.
A iluminação é aplicável não ao conhecimento do sensível em geral, aos objetos do mundo, mas aos inteligíveis, seja quando se dão via o próprio pensamento, tal como as idéias de bem, verdade, justiça, as idéias matemáticas, seja quando, por exemplo, no caso de se emitir um juízo sobre o sensível, que revelem os inteligíveis... (GILSON, 1943).
Agostinho busca no mundo entre as coisas sensíveis o conhecimento verdadeiro, não encontrando volta para dentro de si. Gilson afirma que se “pode buscar o conhecimento, sem a incorrência de nenhuma experiência mística, nas criaturas. Este caso constitui um caminho em que se procura ver Deus por entre as coisas do mundo:”. É na ordem e beleza da natureza que Agostinho procura o conhecimento verdadeiro. “É preciso que olhemos para as belezas naturais, deveras transitórias e passageiras, não com vã curiosidade, mas com atenção. Elas serão a escada por onde nos elevaremos, gradativamente, até as realidades imperecíveis e permanentes”, assegura Bastos.
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As obras da natureza e as dos homens, todas elas subsistem em algum tempo e em algum lugar, como os corpos naturais. Contudo, aquela perfeita igualdade e unidade que só o espírito vê e conhece e pelas quais julga e conhece os corpos identificados pelos sentidos, não se encontram em nenhum lugar e em tempo algum. (BASTOS, 2013).
Mas não termina aqui. Acima da razão (do homem) ainda há verdades que não dependem da subjetividade, pois suas leis são universais e necessárias: as matemáticas, a estética e a moral. Só acima destas está Deus, que as cria, ordena e possibilita o seu conhecimento, que deve, agora, ser buscado na interioridade do homem.
[...] Perguntei à terra, e esta me respondeu: "Não sou eu". [...] Interroguei o mar, os abismos e os seres vivos, e todos me responderam: "Não somos o teu Deus; busca-o acima de nós” [...] Pedi a todos os seres que me rodeiam o corpo: "Falai-me do meu Deus, já que não sois o meu Deus; dizei-me ao menos alguma coisa sobre ele". E exclamaram em alta voz: Foi ele quem nos criou. Para interrogá-los, eu os contemplava, e sua resposta era a sua beleza. [...] Aos homens é dado indagar, para perceberem o Deus invisível através da compreensão das coisas criadas. (CONFISSÕES. X, 6, 9-10).
Gilson garante que “para que se conheçam essas verdades, será necessário um movimento para dentro de si, num esforço da alma de encontrá-las em si mesma”, ainda a esse respeito, Gilson nos fala “O mundo proclama seu autor e nos reconduz sem cessar a ele, porque a sabedoria divina deixou sua marca sobre todas as coisas...”. Em Agostinho, “[...] o caminho que vai dos corpos à verdade passa pelo pensamento; e ainda que ele (o pensamento) parta do mundo exterior, o itinerário normal de uma prova agostiniana vai então do mundo à alma e da alma a Deus.".
Para o filosofo de Hipona a contemplação da luz divina não é uma lembrança da vivência anterior da alma, mas uma irradiação presente. Deus ilumina o intelecto com sua luz, tornando-o capaz de conhecer segundo sua ordem natural. Todos os homens querem ser alegres e felizes, mas a verdadeira alegria só vem de Deus.
2.2 DOUTRINA DA ILUMINAÇÃO (Reminiscências)
A teoria agostiniana estabelece que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de uma iluminação divina, assegura Maurício Bastos, assim como, só essa luz divina possibilita ao homem contemplar as próprias idéias, arquétipos eternos de toda realidade.
Em sua busca filosófica, ele deixou de lado a reflexão sobre o mundo exterior, e fez uma profunda introspecção para descobrir a sua interioridade, a essência do ser humano. Por isso, Agostinho é considerado também um pioneiro da psicologia.
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Agostinho identifica na "teoria das idéias" de Platão o universo das "idéias divinas". As idéias divinas, os homens as recebem de Deus através da iluminação, e, com isso o conhecimento das verdades eternas. Agostinho reinterpreta a teoria da Reminiscência fazendo nascer sua teoria da Iluminação. Essa doutrina da iluminação divina responde como o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas, ou como diria Platão, as verdades inteligíveis. Dessa forma, o verdadeiro é o que é previamente iluminado pela luz divina, e que é algo extraído da própria alma, mas que está de modo infuso. Pode-se afirmar, no entanto, que a iluminação é a potência que age no intelecto do homem para se chegar à verdade imutável.
San Agustín no cree necesario "demostrar" la existencia de Dios. "Demostrar" tal existencia equivalerla a probar que la proposición "Dios existe" es verdadera. Pero sólo en Dios está la Verdad; más aun, Dios es La Verdad. Por consiguiente, todas las proposiciones que se perciben como verdaderas son tales porque han sido previamente iluminadas por la luz divina. Entender algo inteligiblemente equivale a extraer del alma su inteligibilidad; nada se entiende inteligiblemente que de algún modo no se "sepa" previamente. Ello parece hacer de San Agustín un partidario de la doctrina platónica de la reminiscencia (VÉASE). (FERRATER MORA, 1964. p. 908).
A nossa consciência quando elabora conceitos ela não está fazendo uma abstração a partir da realidade, mas sim está tendo uma lembrança de uma idéia preexistente, uma iluminação divina, nossa consciência recebe uma influencia divina graças à bondade de Deus, compartilhamos o próprio conteúdo presente na consciência divina, e assim se elabora conteúdo, conceitos e o aprendizado. Mas de que um conhecimento racional o que importa é a adesão pela fé. Aranha destaca que “Agostinho não rejeita o conhecimento proveniente das sensações, mas o coloca em um patamar inferior, entendendo o intelecto com o superior, mas sendo ambas as fontes de conhecimento.” (ARANHA, 1995).
No livro De Magistro o doutor de Hipona trava um dialogo com seu filho, O diálogo entre Agostinho e Adeodato focaliza a questão da linguagem, sua origem e papel no processo do conhecimento. Mostra que a finalidade da linguagem nada mais é do que ensinamento e rememoração. Definindo Primeiramente o que é ensinar e a seguir faz uma exposição sobre o significado da palavra e a realidade, chegando à conclusão que falar e rememorar tem o mesmo objetivo, o de ensinar, falar é um meio de ensino através da locução, ou seja, proferimento de palavras, rememorar é um meio de ensino através da palavra interior.
[...] apesar de haver quem não concorde, que, mesmo sem emitir som algum, nós falamos enquanto intimamente pensamos as próprias palavras em nossa mente; assim, com as palavras nada mais fazemos do que chamar a atenção; entretanto, a
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memória, a que as palavras aderem, em as agitando, faz com que venham à mente as próprias coisas, das quais as palavras são sinais. (DE MAGISTRO, 2000).
Concluindo nos capítulos XI e XII dessa obra, aqui referida, afirma que não aprendemos pelas palavras que repercutem exteriormente, mas pela verdade que ensina interiormente (XI). Cristo é a verdade que ensina interiormente (XII). Ainda hoje seu ensinamento é bastante difundido.
[...] de onde vêm então os significados que as palavras apontam? Afinal, já que os signos linguísticos possuem uma forte opacidade, os significados são incompreensíveis pelos próprios signos. Na verdade, seria impossível conhecer os significados se já não os conhecêssemos previamente, já que “com as palavras não se aprende nada mais do que palavras, isto é, sinais sonoros que possuem este ou aquele significado já conhecido”. (PINHEIRO, 2013).
Assim, podemos aprender com os sinais que representam a realidade de forma significativa, da mesma forma podemos rememorar com pensamentos no espaço secreto da alma, provando desse modo, que ninguém pensa sem palavras.
Nem tudo que é sensível pode ser demonstrado sem um corpo. Do que é corporal só o visível pode ser demonstrado, nem mesmo as coisas metafísicas e transcendentais deixam de existir pelo fato de não poderem ser demonstradas. (DE MAGISTRO, 2000).
Os objetos sensíveis, bem como as palavras, são ocasiões para que se manifeste tal iluminação. Isso significa que a verdade, enquanto forma de perfeição, deriva da própria PERFEIÇÃO DE DEUS – embora possa se manifestar pela via das coisas imperfeitas. Com esses argumentos é possível concluir a existência de Deus. É para Esse Deus que o homem deve canalizar seus desejos.
Em seu conhecido livro Confissões, Agostinho de Hipona apresenta o desejo como uma das quatro principais perturbações da alma, ao lado da alegria, da tristeza e do medo. Para ele, o desejo deixa a alma permanentemente em estado de inquietude, tal fato ocorre por que o se humano nunca se satisfaz plenamente ao realizar seus desejos, continuando a sua existência insatisfeita, a desejar sempre e jamais atingir o grau máximo de satisfação. No seu diagnóstico, só há uma solução: a mudança do objeto de desejo. Ao invés do homem desejar bens materiais, perecíveis, deve canalizar o desejo para o bem supremo e imperecível, ou seja, o absoluto e eterno, que se conhece pelo nome de Deus. Esta é a única saída para a inquietude do coração do homem até o repouso em Deus. Lembremo-nos, a este respeito, das suas palavras: “Cor inquietum donec requiescat in Te”. Desse modo, para o Bispo de Hipona, o desejo humano é definido originalmente como desejo de Deus. Desejo
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este, cujo objeto não é como no Eros platônico, o universal, mas a singularidade absoluta, do criador do homem e também daquele mesmo desejo que nele existe e constitui. Desejo é algo que você espera, vontade se realiza na ação, enfim, o desejo é simbolizado na finalidade da ação. No final de tudo, você não vai achar o que sempre procurou, e sim, encontrar com algo ou alguém que sempre esteve ali em prontidão esperando por você.
Algumas dessas características também podem ser encontradas em doutrinas filosóficas modernas e contemporâneas, às quais chegam através da tradição medieval ou, diretamente, da obra de S. Agostinho.
2.2.1 Deus e o Homem
São os dois grandes temas agostinianos. O homem nada seria sem Deus, Ele está em tudo e nada pode conte-lo.
Ainda não estive no inferno, mas também ali estás presente, pois, se descer ao inferno, ali estarás. Eu nada seria meu Deus, nada seria em absoluto se não estivesses em mim; talvez seria melhor dizer que eu não existiria de modo algum se não estivesse em ti, [...] tu que conténs todas as coisas, visto que as que enches as ocupas contendo-as? Porque não são os vasos cheios de ti que te tornam estável, já que, quando se quebrarem, tu não te derramarás; e quando te derramas sobre nós, isso não o fazes porque cais. (CONFISSÕES 2000). Cap. II e III
Deus é perfeito. Para Agostinho, o tempo não tem realidade em si, é uma invenção do homem, constituído por três nadas: o passado, que não existe mais; o futuro, que ainda não existe; e o presente, tão fugaz que é uma mistura de passado e futuro. É a partir daí que se compreende com certa facilidade a concepção agostiniana de Deus.
Tão oculto e tão presente, formosíssimo e fortíssimo, estável e incompreensível; imutável, mudando todas as coisas; nunca novo e nunca velho; renovador de todas as coisas, conduzindo à ruína os soberbos sem que eles o saibam; sempre agindo e sempre repouso; sempre sustentando, enchendo e protegendo; sempre criando, nutrindo e aperfeiçoando, sempre buscando, ainda que nada te falte. (CONFISSÕES, 2000). Cap. IV
Essas são apenas algumas das numerosas referências que poderíamos dar sobre esta questão crucial. Agostinho propõe “Que te conheça a ti e que me conheça a mim mesmo”. É o famoso princípio do Solilóquio: “Quero conhecer Deus e a alma. Nada mais? Absolutamente nada mais”. Nesta questão Santo Agostinho trai a influência do platonismo.
Concede Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer? Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? (CONFISSÕES, 2000). Cap. I
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O homem nada mais é que espírito e carne; é dotado de um corpo e uma alma, uma alma que usa um corpo; ou, uma alma racional, que se serve de um corpo terrestre e mortal; ou, “uma alma racional que tem um corpo”. Tudo indica que, para Santo Agostinho, o homem é a alma. E, contudo, há textos que parecem fugir ao platonismo.
Porque o homem não é só corpo ou apenas alma, mas o que é constituído de alma e de corpo. Esta é a verdade: a alma não é todo o homem, mas é a melhor parte do homem; nem todo o homem é o corpo, mas a porção inferior do homem; quando as duas estão juntas, temos o homem. (CIDADE DE DEUS, 1988).
O homem que se espanta é ele mesmo grande maravilha. [...] E dirigi-me a mim mesmo e disse: Tu quem és? E respondi-me: Homem. E eis que tenho à mão o corpo e a alma, um exterior e o outro interior. Porém, melhor é o interior. [...] O homem é um ser intermediário entre os animais e os anjos. [...] Nada encontramos no homem além de corpo e alma; isso é todo o homem: espírito e carne. (Idem). (BASTOS, 1954. p. 66).
Enfim, a fisionomia geral do Agostinismo medieval pode ser expressa com os seguintes pontos: Falta de distinção precisa entre o domínio da filosofia e o da teologia, isto é, entre a ordem das verdades racionais e a das verdades reveladas; teoria da iluminação divina, segundo a qual a inteligência humana não pode funcionar senão pela ação iluminadora e imediata de Deus e não pode encontrar a certeza do seu conhecimento fora das regras eternas e imutáveis da ciência divina; primazia da noção de bem sobre a de verdadeiro e, portanto, da vontade sobre a inteligência, tanto em Deus quanto no homem; atribuição de uma realidade positiva à matéria, ao contrário de Aristóteles, que nela vê pura potencialidade, do que deriva, por exemplo, que o corpo humano possui realidade ou atualidade própria, isto é, uma forma independente da alma e que a alma é, portanto, uma forma ulterior que se acrescenta ao composto vivente e animal; daí, a chamada pluralidade das formas substanciais no composto.
Outros elementos de reflexão da filosofia cristã de Santo Agostinho: Superioridade da alma; Boas obras ou graça divina; Liberdade e pecado; Precedência da fé.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agostinho de Hipona começa cedo à procura por um sentido para a vida, a busca da plena razão da existência, “O verdadeiro caminho, que é o salvador, encantava-me, mas ainda me repugnava enveredar por seus estreitos desfiladeiros”, o caminho da salvação foi preparado por sua mãe Santa Mônica que suplicava com humildade todos os dias a Deus a graça de ver seu filho convertido no cristianismo, não obstante se entrega aos desejos e prazeres da alma concupiscente, apegado às suas angustias e dúvidas a respeito da verdade, vivendo em um conflito entre razão e fé.
A filosofia agostiniana é uma constante busca da verdade, que culmina na Verdade, em Cristo. É um movimento incessante, essa idéia de infinito é o fundamento que nos acarreta a pensar a existência de Deus, é uma paixão, e, precisamente, a paixão principal: o amor. “Amor meus, pondus meum”, “o amor é o peso que dá sentido à minha vida”, (Confissões, 2000). Verdade e amor. “Fizeste-nos, Senhor, para Ti e o nosso coração estará inquieto enquanto não descansar em Ti”, (ibdem). Essa ‘passionalidade’ da filosofia agostiniana não é em nenhum momento irracionalismo ou voluntarismo. Incita a ter fé para entender, mas também anima a entender para crer melhor.
Com sua interpretação da teoria da reminiscência (iluminação divina) ensina que não é preciso procurar a verdade no mundo exterior, o caminho que leva a verdade incondicional encontra-se no homem interior, está acima da razão. O recordar-se de um conhecimento prévio é o que o filósofo/teólogo denominou de rememoração de Deus.
Convém lembrar que o cristianismo antes de Agostinho pouco tinha de filosófico, consistia da crença num Deus criador que se fez homem e num conjunto de instruções morais, por isso, o filósofo pôde conciliá-lo sem contradições ao platonismo.
Agostinho de Hipona foi sem dúvida o principal filósofo de tradição patrística, pelo grau de elaboração, originalidade e influência de sua obra na filosofia cristã do período medieval, sendo parte constitutiva de seu legado um tratado Sobre a doutrina cristã.
Professou, portanto, uma vida digna de um santo homem, prestando muito serviço à igreja. Através de suas ações levou aos pés de Cristo muitas almas, e deixou um grande legado para a humanidade. Ulisses Pavinic
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GLOSÁRIO
Ceticismo - O ceticismo é um sistema filosófico fundado pelo filósofo grego Pirro (318aC. -272aC.), que tem por base a afirmação de que o homem não tem capacidade de atingir a certeza absoluta sobre uma verdade ou conhecimento específico. No extremo oposto ao ceticismo como corrente filosófica encontra-se o dogmatismo. O cético questiona tudo o que lhe é apresentado como verdade e não admite a existência de dogmas, fenômenos religiosos ou metafísicos.
Criacionismo - Esta teoria nos lembra da ancestral polêmica gerada pela discussão entre Ciência, Filosofia e Religião, sobre as origens do Universo e da própria Humanidade. Ela procura dar sua versão sobre esta questão, do ponto de vista religioso. Assim, ela sustenta que todos os seres vivos existentes foram criados por um ou mais entes inteligentes. Esta é a hipótese de maior recepção em todo o planeta. Tem sua própria teoria explicativa, narrada na Bíblia, seu livro sagrado. Segundo esta religião, o homem foi criado por Deus, logo após a gênese dos céus e da terra.
Gnosiologia - Gnosiologia (ou gnoseologia) é a parte da Filosofia que estuda o conhecimento humano. É formada a partir do termo grego “gnosis” que significa “conhecimento” e “logos” que significa “doutrina, teoria”. Pode ser entendida como a teoria geral do conhecimento, na qual se reflete sobre a concordância do pensamento entre sujeito e objeto. Nesse contexto, objeto é qualquer coisa exterior ao espírito, uma ideia, um fenômeno, um conceito, etc., mas visto de forma consciente pelo sujeito. O objetivo da gnosiologia é refletir sobre a origem, essência e limites do conhecimento, do ato cognitivo (ação de conhecer).
Maniqueísmo - Doutrina criada por Manes (século III), que se difundiu pelo Império romano e pelo Ocidente cristão, florescendo nesse período. Combina elementos do zoroastrismo, antiga religião persa, e de outras religiões orientais, além do próprio cristianismo. Mantém uma visão dualista radical, segundo a qual se encontram no mundo as forças do bem ou da luz, e do mal, ou da escuridão, consideradas princípios absolutos, em permanente e eterno confronto. O maniqueísmo teve grande influência nos primórdios do cristianismo, sendo combatido por santo Agostinho, que inicialmente o havia adotado.
Neoplatonismo - O Neoplatonismo foi uma corrente de pensamento iniciada no século III que se baseava nos ensinamentos de Platão e dos platônicos, mas interpretando-os de formas bastante diversificadas. Apesar de muitos neoplatônicos não o admitirem, o neoplatonismo era muito diferente da doutrina platônica. O prefixo neo, inclusive, só foi adicionado pelos estudiosos modernos para distinguir entre os dois, mas na época eles se autodenominavam platônicos.
Reminiscência - A reminiscência platônica, ou a anamnésis é a ação de recordar, ou trazer à mente o conhecimento que é inerente à psique humana e que precisa ser lembrado pela reflexão filosófica. É o recordar dos entes inteligíveis que já existem na psique.
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REFERÊNCIAS
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Ulisses Pavinič é formado em patologia clínica pelo Centro Integrado de Educação Anísio Teixeira - CIEAT, graduado em filosofia com ênfase em teoria do conhecimento pela Faculdade São Bento da Bahia - FSB-Ba, cursou administração de empresas trilíngue pela Faculdade Integrada da Bahia - FIB/ESTÁCIO, estuda artes cênicas (curso de extensão) pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia - ETUFBA. Atua profissionalmente nas áreas de educação e saúde, ocupando cargos como: Professor de filosofia, Conselheiro Municipal de Saúde de Salvador, Diretor para Assuntos jurídicos do Sindicato da Saúde do Estado da Bahia, Apoiador da Política Nacional de Humanização do SUS no estado, Presidente da Comissão de Pensão Especial da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Governo Federal no estado da Bahia. Foi criador do projeto gráfico e editor de um jornal com tiragem mensal "Alô alô Dom Rodrigo", integrante do núcleo de criação da Rede Intersetorial de Atenção a Cajazeiras e Região, entre outros. Possui habilidades nas artes plásticas em especial desenho artístico, ainda compõe e escreve artigos, contos e poesias. Ator cênico integrante de grupos de teatro, participa em apresentações performáticas e mostras de arte no estado da Bahia, além de Conferências, Congressos, Colóquios, Simpósios, Fóruns, entre outros eventos por todo pais, nas diversas áreas que está inserido. Atualmente desenvolve projeto de produção e veiculação de vídeo para internet com inserções quinzenais.

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